quarta-feira, 16 de julho de 2008

Os teatros das pequenas cidades.

Se o ator é o elemento fundamental no teatro, ele não poderia existir sem um espaço onde se desenvolver. Podemos definir o teatro como um espaço em que estão juntos os que olham e os que são olhados, e a cena como o espaço dos corpos em movimento. O espaço teatral compreende atores e espectadores, definindo certa relação entre eles. O espaço cênico é o espaço próprio aos atores e ele pode estar em um terreno baldio, uma praça, um pedaço de rua ou um teatro formal. Quando um grupo de teatro amador prepara um espetáculo para ser apresentado em diversas cidades, uma das grandes preocupações, dentre as muitas que ocorrem em qualquer montagem, é com relação ao tamanho dos cenários, isto porque os teatros das pequenas cidades brasileiras, quando existem, se constituem invariavelmente no maior desafio a ser enfrentado pelos artistas e cenógrafos. Construídos em sua maioria atendendo ao estilo do Teatro Italiano, que se caracteriza pela disposição frontal da platéia ao palco, palco delimitado pela boca de cena e sua conseqüente cortina e a presença da caixa cênica geralmente sem urdimento, coxias e varandas, esses teatros são, em verdade, resultantes de projetos elaborados por quem desconhece tecnicamente o assunto. Quando um município se propõe a construir um teatro, deve fazê-lo de maneira a atender ao maior número possível de usos como para música, para palestras, reuniões, congressos, formaturas, projeções de filmes, dança e claro, teatro. Nesse sentido, somente o espaço arquitetônico destinado às apresentações teatrais permite tecnicamente a ocorrência dos demais usos, já que o teatro exige uma relação entre boca de cena e profundidade tal que permite a utilização do espaço cênico para qualquer atividade cultural. O tamanho da platéia é outro assunto. O teatro nunca está fora da cidade: o espaço teatral é dependente do lugar teatral, ele próprio é definido pelo seu tipo de inserção na cidade. Se seus moradores têm o hábito de freqüentar o teatro, sua platéia deverá ser grande, se não, pequena. Se a relação entre o custo construtivo para se fazer a platéia é de quase 30% a mais do que o custo construtivo do espaço cênico; devido a platéia demandar movimentação de terras, construção de pisos em declives; cabe aqui uma pergunta: porque a maioria dos teatros das pequenas cidades do interior privilegiam a construção de teatros com platéias de 200 a 300 lugares para um espaço cênico inadequado à apresentações de dança, de teatro e outras manifestações culturais que necessitam de um espaço cênico mínimo de 12 metros comprimento por 10 metros de profundidade? A resposta é óbvia e só não vê quem não conhece de teatro: é porque quem projeta esses teatros desconhece o teatro, sua técnica específica e as necessidades dos profissionais dessa arte e encaram a tarefa de projetá-los como um quebra-cabeças de caráter puramente geométrico e econômico. Um recado aos profissionais da engenharia e arquitetura que se dispõem a projetar um teatro: visite um teatro, pise em um palco, ande pelos bastidores e seus camarins, suba no urdimento e em suas varandas e por fim, converse com alguns atores e bailarinos, depois sim, comece a projetar. Lembre-se que só faz bem feito quem conhece sobre aquilo que está fazendo.